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Opinião Granjense: Opinião do Leitor

quinta-feira, maio 04, 2006

Opinião do Leitor

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Para que o país possa evoluir rapidamente nas partes e no todo é preciso introduzir dinâmica e interactividade nas relações humanas e profissionais.
Todos os dias assistimos a cenas, umas caricatas outras dramáticas, que revelam o atraso do nosso país nos mais variados campos. Quanto tal acontece, e acontece muitas vezes, toda a gente fala na necessidade de reformas, modernização e inovação. Trata-se de um tema persistente. Não há partido ou governo que não prometa a modernização acelerada do país. Contam-se em grande número os documentos, programas, manifestos e discursos que afirmam ser a falta de modernidade e inovação a causa dos nossos mais graves problemas sociais, culturais e económicos.
Tudo bem. Então porque é que as coisas teimam em não funcionar e as melhorias significativas demoram a chegar?
Uma das razões de fundo para tal evidente fracasso reside na disparidade e até contradição entre as múltiplas noções do que são a própria modernidade e a inovação. A outra, e desta derivada, é saber como se desencadeiam realmente os processos que conduzem à modernização e à criatividade.
Uma coisa é certa. Não basta fazer decretos ou leis e não é seguramente com discursos que se consegue chegar lá. É necessário compreender os mecanismos sociais e culturais que geram o novo.
Embora uma ideia inovadora possa surgir em qualquer lado, em qualquer situação social ou até no ambiente mais hostil, mesmo ignorante ou obscuro, na verdade em termos globais verifica-se que certas condições são mais favoráveis do que outras. A liberdade é melhor do que a opressão, a democracia bem melhor do que a ditadura, a juventude mais propícia do que a idade avançada, o inconformismo mais vantajoso do que a obediência cega. E todos já percebemos, ainda que nem todos se comportem em consequência, que embora a educação custe muito dinheiro ao Estado, a ignorância não é uma opção e acaba por sair bem mais cara.
Em Portugal vivemos em liberdade e democracia, mas dá-se pouco valor aos jovens, à educação e ao inconformismo. As organizações, públicas e privadas, são muito formais e assentam numa rigorosa hierarquia piramidal. O topo tende a ser inacessível, autoritário e a cultivar o secretismo. A informação não circula e não é interactiva. A lógica top-down, isto é, de cima para baixo, prevalece nas empresas e na administração pública. Ora nestas condições a inovação tem muita dificuldade em emergir.
Nos últimos anos a ciência tem vindo a demonstrar que os sistemas mais eficazes baseiam-se em dinâmicas bottom-up, ou seja, de baixo para cima. E que muitos fenómenos, desde a meteorologia às flutuações bolsistas, só se podem apreender a partir da compreensão dos mecanismos na base.
Francis Heylighen que tem estudado os fenómenos da complexidade e da chamada inteligência colectiva afirma que num grupo hierarquizado se privilegiam as ideias dos chefes e se desvalorizam as ideias dos subordinados. Quem está no topo pode criticar todos, mas quem está em baixo não pode criticar ninguém. Neste tipo de situações aquilo que se consegue do colectivo não é mais do que se conseguiria consultando tão-só os chefes. Um desperdício portanto.
Para que o país possa evoluir rapidamente nas partes e no todo é preciso introduzir dinâmica e interactividade nas relações humanas e profissionais. A inovação acontece quando se juntam pessoas e ideias que à partida estão separadas. Quando se confrontam livremente argumentos diversos e mesmo opostos. Quando se faz a experiência do inesperado. Em Portugal seria pois necessário começar por eliminar a verdadeira ditadura dos senhores doutores e dos pequenos e grandes chefes. Porque eles e seus métodos arcaicos são o maior obstáculo à inovação e à produtividade.


in Jornal de Negócios

Alex Oliveira, Paris 03 de Maio de 2006


Cumprimentos aos granjenses