Música vs Drogas
O MEU AMIGO R.
Quem me abriu as grandes portadas para o vasto mundo da música electrónica foi o meu amigo R,, quando há uns anos atrás me apresentou o primeiro “Superdiscount” de Etienne De Crecy. Nessa altura senti que foi uma lufada de ar fresco para a minha compreensão musical e um passo de gigante para a descoberta das sonoridades vindouras. Nessa altura recordo-me também de ter rodado incessantemente na minha aparelhagem obseleta o álbum “Carboot Soul” dos Nightmares on Wax e o “A Grand Love Story” de Kid Loco, entre outros menos marcantes.
O meu amigo R. sempre foi um acérrimo adepto de festas, quer fossem elas de house ou techno, quer fossem elas mais ou menos alternativas. Eu por vezes ia com ele. Mas com o passar do tempo fui-me apercebendo que o meu amigo R. não só ia ás festas para apreciar os decibéis de música mas também para se enredar nas drogas que nelas proliferavam. Quando um dia me vi entre um grupo de pessoas desconhecidas (só conhecia o meu amigo R.), a consumirem substâncias – inaláveis, sintéticas, alucinógenicas, etc. – sem pudor e medo das consequências futuras, despeguei-me dessas festas durante uns tempos e continuei na minha procura musical, que era o que deveras me importava.
Os anos foram voando, as sonoridades foram evoluindo, os discos foram crescendo nas minhas estantes, e o meu amigo R. continuou a levar a sua vida com alguma decadência, Confundido o simples prazer da música e de uma boa festa, com o prazer efémero das drogas. E assim, perdi o rasto do meu amigo R. durante algum tempo.
Certa vez o meu amigo R. foi parar ao hospital com uma contractura muscular devido ao excesso de drogas inaláveis que tinha consumido numa festa na noite anterior. Ao que parece essa ida ao hospital deixou-lhe mazelas irreversíveis no seu sistema nervoso central.
Hoje em dia o meu amigo R. é um rapaz que caiu na realidade. Está casado e tem um filho. Aqui há tempos cruzámo-nos na rua e entre dois dedos de conversa disse-me que só ia a festas de vez em quando, que deixara qualquer tipo de narcóticos, mas que tinha de ter sempre um ansiolítico no bolso, para o caso de ter ataques de ansiedade e pânico. Perguntei-lhe o que é que ele andava a ouvir e ele respondeu-me que há muito que não ouvia umas boas novidades, que ouvia os seus discos antigos.
Nessa altura convidei-o a ir um dia a minha casa para ouvir uns discos, visto ele ter estado alheado ao que mais importava: a música! E terá valido a pena? Acho que não. O preço que se paga é demasiado alto!
Passados estes anos, coube-me a mim abrir as grandes portadas do vasto mundo de música electrónica, que estiveram durante algum tempo fechadas ao meu amigo R.
"texto retirado da edição de Maio da revista "Dance Club"
Quem me abriu as grandes portadas para o vasto mundo da música electrónica foi o meu amigo R,, quando há uns anos atrás me apresentou o primeiro “Superdiscount” de Etienne De Crecy. Nessa altura senti que foi uma lufada de ar fresco para a minha compreensão musical e um passo de gigante para a descoberta das sonoridades vindouras. Nessa altura recordo-me também de ter rodado incessantemente na minha aparelhagem obseleta o álbum “Carboot Soul” dos Nightmares on Wax e o “A Grand Love Story” de Kid Loco, entre outros menos marcantes.
O meu amigo R. sempre foi um acérrimo adepto de festas, quer fossem elas de house ou techno, quer fossem elas mais ou menos alternativas. Eu por vezes ia com ele. Mas com o passar do tempo fui-me apercebendo que o meu amigo R. não só ia ás festas para apreciar os decibéis de música mas também para se enredar nas drogas que nelas proliferavam. Quando um dia me vi entre um grupo de pessoas desconhecidas (só conhecia o meu amigo R.), a consumirem substâncias – inaláveis, sintéticas, alucinógenicas, etc. – sem pudor e medo das consequências futuras, despeguei-me dessas festas durante uns tempos e continuei na minha procura musical, que era o que deveras me importava.
Os anos foram voando, as sonoridades foram evoluindo, os discos foram crescendo nas minhas estantes, e o meu amigo R. continuou a levar a sua vida com alguma decadência, Confundido o simples prazer da música e de uma boa festa, com o prazer efémero das drogas. E assim, perdi o rasto do meu amigo R. durante algum tempo.
Certa vez o meu amigo R. foi parar ao hospital com uma contractura muscular devido ao excesso de drogas inaláveis que tinha consumido numa festa na noite anterior. Ao que parece essa ida ao hospital deixou-lhe mazelas irreversíveis no seu sistema nervoso central.
Hoje em dia o meu amigo R. é um rapaz que caiu na realidade. Está casado e tem um filho. Aqui há tempos cruzámo-nos na rua e entre dois dedos de conversa disse-me que só ia a festas de vez em quando, que deixara qualquer tipo de narcóticos, mas que tinha de ter sempre um ansiolítico no bolso, para o caso de ter ataques de ansiedade e pânico. Perguntei-lhe o que é que ele andava a ouvir e ele respondeu-me que há muito que não ouvia umas boas novidades, que ouvia os seus discos antigos.
Nessa altura convidei-o a ir um dia a minha casa para ouvir uns discos, visto ele ter estado alheado ao que mais importava: a música! E terá valido a pena? Acho que não. O preço que se paga é demasiado alto!
Passados estes anos, coube-me a mim abrir as grandes portadas do vasto mundo de música electrónica, que estiveram durante algum tempo fechadas ao meu amigo R.
"texto retirado da edição de Maio da revista "Dance Club"



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